Anjos terrenos

As asas se arrastam pacificadoras

São da terra, não são voadoras

Cortam noites ou madrugadas

Em becos e estradas

Esquina, viaduto e meio fio

Faça chuva, calor ou frio

São anjos terrenos

De gestos amenos

Olhos compreensivos

Sorrisos expansivos

Passos decididos

Corações resplandecidos

Representam as chamas que aquecem

A solidão e o abandono em que adormecem

Os vultos que dormem ao relento

Expostos a chuvas, sol, frio e vento

Muitas vezes escravos de uma realidade

Que carrega as chagas da desumanidade

Velhos, adultos, jovens ou crianças

Viciados ou sem esperanças

Na rua encontram um porto seguro

E mesmo que seja um túnel escuro

Seus vultos se abrem nas cidades

Deixando à mostra o câncer das sociedades

Os anjos socorrem esses moradores sem tento

Com alimentos, cobertores, roupas e afeto

É o diferencial de um mundo sempre ocupado

Que considera os vultos um problema do Estado