DEVANEIOS
Sem ao menos arfar se faz na boca o verbo
Do tenor do mundo escutar a voz
Que do terror sereno uma flor virá
Surgirá após o secar da chuva
Que molhou o ninho de um sabiá
Sem ao menos ver o furor do vento
Balançando a vida que teimosa escuta
O eco do sonho e do pensamento
A serpente negra que guarda a gruta
Sem ao menos ter um brilho qualquer
Estrela do céu que caiu no mar
Mora ao lado da sereia mulher
Uma flor nascida e morta de tanto amar
Sem ao menos ir ao encontro certo
Qualquer vida é melhor que morrer
Ser levado ao mar como objeto
Como as montanhas não pode crescer
Sem ao menos desejar, como desejo eu
Sem ao menos sonhar, como sonho eu
Sem ao menos pensar, como penso eu
E saber quem vive, mas, nunca viveu
Sem ao menos ter o que tenho eu
Sem ao menos amar, como amo eu
É saber que pra vida jamais nasceu.