DEVANEIOS

Sem ao menos arfar se faz na boca o verbo

Do tenor do mundo escutar a voz

Que do terror sereno uma flor virá

Surgirá após o secar da chuva

Que molhou o ninho de um sabiá

Sem ao menos ver o furor do vento

Balançando a vida que teimosa escuta

O eco do sonho e do pensamento

A serpente negra que guarda a gruta

Sem ao menos ter um brilho qualquer

Estrela do céu que caiu no mar

Mora ao lado da sereia mulher

Uma flor nascida e morta de tanto amar

Sem ao menos ir ao encontro certo

Qualquer vida é melhor que morrer

Ser levado ao mar como objeto

Como as montanhas não pode crescer

Sem ao menos desejar, como desejo eu

Sem ao menos sonhar, como sonho eu

Sem ao menos pensar, como penso eu

E saber quem vive, mas, nunca viveu

Sem ao menos ter o que tenho eu

Sem ao menos amar, como amo eu

É saber que pra vida jamais nasceu.

Luís Pereira
Enviado por Luís Pereira em 25/02/2010
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