BARQUINHO DE PAPEL

A chuva em trovoadas desabou

do céu, intensa, em abundância,

como lágrimas de Nosso Senhor

despertando o meu lado criança

Corri a pegar um pedaço de papel

com ele fiz um lindo barquinho

onde desenhei o índigo do céu

e acrescentei pitadas de carinho

De terno, gravata, sapato mocassim

sem me importar com a aparência

meio infantil, tudo era novo pra mim,

extravasei minha olvidada inocência

A chuva forte molhou-me por inteiro

deitei-me tão feliz sobre a calçada

e vi, rindo, a água formando um ribeiro,

patético, minha roupa toda molhada

Coloquei o barquinho na correnteza

que, lépido e fagueiro, saiu a navegar

e na fragilidade cândida de sua leveza

parecia deslizando nas ondas do mar

A água, brava, o levou para distante

por mares nunca outrora navegados

e lá se foi como firme vai a amante

quando discute e briga com o amado

Fiquei deitado sob as lágrimas do céu

vendo meu barco que se ia radiante

e mesmo sendo pequeno, feito de papel,

deixou-se levar às cegas, todo confiante

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 14/02/2010
Reeditado em 14/02/2010
Código do texto: T2086985
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