BLINDAGEM
Já blindei meu coração contra aleivosias urdidas,
Mas não consigo torná-lo impermeável as emoções.
Já pus couraça na vontade,
Só não consigo colocar arreios no temperamento indócil.
Já coloquei semáforo nas idéias,
Só não consigo desacelerar o tempo.
Já botei bridas na língua,
Só não consigo por grilhões no rugido das palavras.
Já blindei meu coração contra afetos bastardos,
Mas ele insiste claudicar ante simpatias velhacas.
Já botei filtros nas janelas dos olhos,
Só não consigo fechar a torneira das lágrimas.
Já fiz contrato vitalício com o silêncio,
Só não consigo abafar o eco das lembranças.
Já algemei os tremores impuros da libido,
Só não consigo conter os ímpetos da gula.
Já coloquei o perdão no pedestal das minhas intenções,
Só não consigo asfixiar mágoas indomáveis.
Já blindei meu coração de todo jeito,
Mas ele insiste em amar liberto dentro do meu peito.