Esperança
Voltei saudoso àquele antigo bosque:
Nobre templário da cúria silvestre,
Que aromatiza sua fragrância alpestre
Co'um incensório de verdes brocados;
E purifica seus ritos sagrados
Na limpidez da fonte cristalina
Que ouve contrita a prece vespertina
Do passaredo, com sutis trinados.
Sussurra o vento, procurando abrigo,
Nos frágeis braços das longas ramagens,
E à voz plangente, farfalham folhagens,
Fazendo coro ao menestrel errante;
A placidez da relva verdejante
Acolhe folhas que à força da sorte
Nutrem a vida co'a seiva da morte
Num holocausto ao renascer constante.
E lentamente quando o sol desperta,
Banhando em luz vetustas alamedas,
Vestem os monges um manto de seda,
Bordando à estrada místicas figuras;
O firmamento, no azul emoldura
Esse oratório de raro lavor,
Sacralizando, aquem professa o amor,
O capitoso néctar da ventura.
Cada recanto guarda uma lembrança...
Que no peito uma saudade tece;
Um grande amor, jamais alguém esquece
Mesmo que o ontem esteja distante;
Do amor eterno, fomos postulantes,
E entre carícias, num viçoso lenho,
Unificamos num meigo desenho
Beijos e abraços de febris amantes.
Hoje voltei, saudoso, àquele bosque:
Trôpegos passos e sonhos desfeitos;
Quis o destino que outro fosse o eleito,
Restando a mim apenas as lembranças,
O frondoso álamo meu olhar alcança;
Percebo que os nomes já não mais existem,
Embora note que ainda persistem
No coração os traços da esperança.
Jorge Moraes - Livro: Quando os sonhos ganham asas