DESERTO

Vou... divagando no deserto,
Rumo à terra prometida,
Olhar cansado - passos incertos,
Reflexo de uma alma perdida.

Mas, no horizonte aberto,
De árida paisagem - definida,
Percebo um sentimento concreto,
Que além das miragens, há guarida.

Continuo a marchar... agora, repleto,
De uma força inesgotável, lúcida,
Assimilo a fadiga, elevo os olhos, oferto,
Ao criador uma canção límpida.

Como o apóstolo dos gentios*, sinto-o bem perto,
Solidário à minha condição humana, caída,
Ouço-o na voz do vento, um som discreto,
Estou contigo - sou o amor que move a vida.

Por mais que o anseio me abrace, sou coberto,
Pela etérea misericórdia, uma paz nunca sentida,
Me acaricia, me traz leveza - liberto,
Os sonhos - deixo rolar lágrimas agradecidas.
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*
Apóstolo Paulo