Domingo Amarelo
Um frade viaja preces em sua cela,
um prisioneiro caminha além da tela,
e alguém chama por Estela.
Enquanto um romântico insiste
que a vida é bela,
um poeta vê que tudo rima com ela
e que tudo dele é dela.
O ipê distribui a tarde amarela
para quem busca a prostituta donzela
ou só uma ternura singela.
E passam avenidas, ruas e vielas
enquanto vidas e vias seguem paralelas.
Alguma pena persegue um poema.
Algum ator, alguma cena
e algum deus, quem lhe tema.
Tarde de vadio Domingo
em que nada se quer.
Apenas deixar
a métrica escapar.
Seria inútil prendê-la ao papel,
pois o sorriso de Isabel*,
ou as formas sob o cinzel
fugiriam da tarde amarela
como o resto de Sol na janela.
* da poética de Manuel Bandeira.