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Um dia já sem esperanças
Sai a procurar por Jesus
No peito tinha um aperto
No pescoço, a replica da cruz
 
Montanhas, destemido, escalei
Orei no silencio da noite
Na meditação nunca me achei
Cortei-me no gume do açoite
 
Florestas e mares cruzei
Penso, fui até o fim do mundo
Voltei pelo trajeto que andei
Cansado, em desalento profundo
 
Pelas igrejas peregrinei
Procurando de sentido e luz   
Às vezes de joelhos prostrei
Aos pés da santíssima cruz
 
Nos olhos de Deus fixei
Os meus, em enternecimento
Mas respostas, não encontrei
Que mitigasse o sofrimento
 
Então tudo abandonei, pirei
Fui morar em meio a barracos 
Vivia do coração dos outros
O corpo coberto de trapos
 
Passei fome, senti medo e frio,
Senti as provações do desconforto
Minha família de mim desistiu
Fui tido como doido ou morto
 
Um dia de inverno febril
Esfaimado,dormindo sob a ponte
Meus olhos eram um vaza-barris
O asfalto era o meu horizonte
 
Notei que dois pés se acercaram
Alguém me estendeu a mão
Era um pobre molambo como eu
A ofertar-me um pedaço de pão
 
Como recusar na minha condição?
Sentei-me e comi com impaciência
Esqueci de agradecer ao benfeitor
Esquecera as regras da convivência
 
Quando olhei para ele, sem interesse
Ele me sorria fraternalmente
Havia brilho no seu rosto sofrido
Ressaltando-lhe a falta dos dentes
 
Ele tirou suas meias e velhos sapatos
Forçando-me a calçá-los
Brincou que meus pés estavam roxos
Que alguém iria amputá-los
 
Aquele gesto me amoleceu
Ofertei-lhe a única coisa que tinha
Uma garrafa com água da chuva
Servida numa pequena latinha
 
Ele tomou e sincero agradeceu 
Obtemperou que tinha de ir embora
Precisava ajudar outras pessoas
Não poderia haver demora
 
Eu sorri triste e ironicamente
Ajudar os outros? Mas você nada tem!
Respondeu que não tinha tudo 
Mas sempre se podia ajudar a alguém
 
Perguntei quem era,  de onde vinha
Falou com a serenidade que a calma produz
Eu sou humano e pobre como você
Meu nome não sei, me chamam de Jesus
 
Fiquei sem falar, em dúvida
Minha mente em transe profundo
Não podia ser aquela pobre alma
O maior homem do mundo
 
O perquiri,  incrédulo e perplexo
Jesus, tu? Que faz? Onde moras então?
Ele redarguiu tranquilo : moro no mundo
A caridade é a minha razão 
 
Falei de mim, adormeci, não o vi sair
Um bilhete no meu bolso foi deixado
“A busca redime, busque-se em Jesus
Ele sempre estará ao seu lado ”
 
Nunca soube se aquele Jesus
Era o mesmo  que eu havia buscado
Porém seu gesto de amor ensinou-me
Que é preciso amar, para ser amado.


  
 
 
Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 17/01/2010
Reeditado em 23/07/2014
Código do texto: T2034713
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