Além das pétalas _ um olhar através da Avenida Paulista.
Havia um soluço, tímido, lúcido,
faminto de tudo;
das migalhas alheias,
dos olhares confusos,
do silêncio absurdo do mundo.
Havia um rosto fadigoso
em um corpo abandonado,
entre pombos e escarros,
sob olhares operários,
apressados, despercebidos.
Havia o homem outrora distinto
tal um fardo sob trapos,
com seus traumas e conflitos,
entre Herodes e Pilatos;
ora um anjo, ora um bandido.
Haviam faces apaziguadas,
feito anjos passeando as calçadas,
rompendo o silêncio,
delineando sorrisos,
acalentando desconhecidos.
Havia o medo, sem entendimento,
cingindo preconceito sob arresto;
nada de conforto, nada de afeto,
nenhum olhar indulgente,
era apenas “outro” entre tantos sem tetos.
Mas ainda havia anjos,
muito além das pétalas,
sob as luzes que tremeluziam
incandescendo as floreiras da Paulista,
onde o menino mendigo dormia.
Há esperança, além das pétalas,
salvando vidas entre enfeites e cânticos,
elevando o espírito, enxugando lágrimas.
Mãos apaziguadas resgatando valores:
_ Levante-te menino e segue teus sonhos.
Há um silêncio diante dos fatos,
sobre os rostos famintos
e seus sonhos roubados.
São apenas números incompreendidos?
Além das pétalas; há um mundo isolado.