Lanceiro Magnífico

Sinto-me fraco, incapaz, queria mudar o mundo,

Mas não consigo nem mudar a mim mesmo

Estudo para crescer, porém não cresço nada

Preocupado com algo que não existe, o futuro

Duvidando da realidade, eu crio passagens,

Mas não me atrevo a passar em nenhuma

Estou conformado, feliz por ser enganado

Todos os dias quando acordo e vejo o teto

Alvenaria sem vida, sinto-me um inseto

Frágil, pequeno e patético

Eu antes tinha um ego, confiante e relutante

Em aceitar o que via, era ele quem meus olhos

Abria, para que eu pudesse acreditar na mudança

Uma personalidade cheia de esperança,

Carregando sempre consigo uma lança, arma

Dos sonhadores, pois é ela quem está mais próxima

De alcançar o céu, perfurando as ilusões

Lança magnífica, porém meu lanceiro já morreu

E agora só o que me resta são as duas partes

De seu sonho, despedaçado

Queria ter sido eu o ego assassinado, pois

Minha arma é o punhal, sou aquele que apunhala

O que trai e o que mata os inocentes, sinto-me triste

Ouço os sinos, o som não vem da igreja, eles vem

Do horizonte, dividindo minha alma em mil pedaços

Sonhos que não tenho, vida sem sentido

Estou completamente perdido, não sou mais o Eu

De outrora, deixo cair meu punhal e num gesto

Desesperado, me ajoelho olhando o céu

Peço perdão, mas não ao Deus cristão

Estou pedindo perdão ao Universo

Ergo o corpo do guerreiro morto e o carrego

Ao monte mais alto que posso com meu corpo fraco

Sua lança partida seguro em meus braços

Lágrimas de um homem que se arrependeu

Vítima do paradoxo que é a própria vida, eu sou

Mais uma alma perdida, disposta a vagar na eternidade

Sempre em busca da felicidade, as badaladas dos sinos

Estão cada vez mais altas, em pouco ficarei surdo,

Mas de nada importa porque eu já estava mudo e cego

Agora meu castigo será completo

Então algo inesperado acontece, o lanceiro está a me olhar

E me pergunta por que eu choro e peço perdão

Eu estava perdido na sombra de um guerreiro

Escondido e com medo, temi ser livre assim como me foi

Ensinado, ter medo dos sonhos, viver apenas do passado

Não é a lição que eu, lanceiro, hei te dado, agora vira

E mira o céu mais uma vez, o Sol está ali, brilhando por ti

As estrelas estão sempre a sorrir e a Lua quer o teu coração

Então enxuga tuas mágoas e as joga para longe junto ao teu

Punhal, porque essa arma traiçoeira tu não mais usarás

Segura minha lança e deixa ela tua alma consertar

Ouve os sinos e deixa o teu passado para trás

Perfura o mal e abre uma passagem para o amor,

Pois essa lança não serve para a guerra

Essa lança magnífica, é feita de paz.

Magno Quirino
Enviado por Magno Quirino em 14/12/2009
Código do texto: T1976694
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