PRELÚDIO SEM FINAL
Não esqueço o principio nem por um segundo
Estendo uma rede na estranha varanda
Canto melodias semelhantes com ciranda
Convicto que minha dor é meu próprio mundo
Guardo o amor dentro do verdadeiro amor
Percorro a espinha dorsal da teimosa dor
E descubro que sou apenas um vagabundo.
Enlaçado pela egocêntrica chama da vida
No centro da terra que lentamente morre
Nada faço para amparar o sangue que escorre
Por causa da ação que arrebenta a ferida
Penso em mim e naquilo que eu não fiz
Fechei os olhos e desisti de ser feliz
Sinto que o amor era uma tese apodrecida.
Uma lágrima borrando uma simples história
Meu mundo resumido ao pó das lembranças
Sepultado no sepulcro ao lado das esperanças
Assassinadas e eliminadas da minha memória
Caminhos sem volta são legalmente oferecidos
A sombra dos desejos neutros e apodrecidos
Nos seios “siliconizados” pelas mãos da escória.
Entre o meu sonho e o meu sono, tenho alucinação
Corpo embrulhado nos lençóis de um talvez
Escarrado das vielas imundas da embriaguez
Ventos de um tornado em forma de obsessão
Corpo trêmulo como roupas presas no varal
Dedos cansados escrevem um prelúdio sem final
Compondo um último verso de uma triste canção.
Fases da lua, frases da rua, me querem mesmo assim
Lágrimas superando os limites das curvas do rosto
Molhando as páginas de livros que descrevem o desgosto
Escapando das órbitas que circulam livremente em mim
Orações mecanicamente proferidas em nome de Deus
Banhado pela dor proveniente dos prantos meus
De joelhos pedindo perdão antes do temível fim.