Aprendiz da Existência
 
Quanta irritação,
quanta raiva inútil
transformando
a possibilidade de amor
em terrível ódio.
A velha ira humana
gerada na clausura
dos limites corporais
há de contaminar o espírito.
E todo peso do presente
poderá ser incômodo entulho
a ser transportado
no futuro próximo.
É preciso, então, ter objetivo,
não deixar desmobilizar a esperança,
não abandonar os ideais.
É necessário acreditar
na promessa divina de dias melhores
e colaborar na construção.
É essencial não se deixar 
envenenar pela frustração
de algo bom que não acontece.
É preciso resistir à tentação
de sentir-se enganado
e ludibriado por bem verdadeiro.
É crucial não perder a fé
e a confiança em função
da vitória momentânea do mal .
Quantas vezes a boa vontade
não há de sentir-se insuficiente
e tola ante os hipócritas?
Não há como evitar
que as velhas almas
sintam o peso
da sua senilidade evolutiva.
É hora de reconquistar 
a pureza da meninice
e, desejando paz,
ter que combater.
Resquícios da rebeldia
dos tempos passados,
a sensação de injustiça reinante.
Uma quase blasfêmia
por conta da profunda insatisfação
e da falta de utilidade existencial.
O engano produzido pelo cansaço,
querendo julgar aquilo
que já está julgado e destinado.
Mas difícil é sobreviver ao dia-a-dia, 
tendo as linhas do destino
fortemente marcadas.
Tudo parece ser uma prisão,
existem o desejo de libertação
e o pensamento de condenação.
O medo do castigo e a força
da inevitabilidade da culpa
gerada no exercício da ignorância.
A dolorosa tentativa
de entender a divindade 
para, por fim, reconhecer-se
incapaz para tanto.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 06/09/2009
Código do texto: T1795573
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