CAMALEÃO
Quisera escrever tudo o que penso,
gravar no papel tudo o que sinto,
me desdobrar em páginas repletas,
me fazer sílabas, vogais e consoantes,
ser uma vírgula, um ponto,
ser um livro.
Eu diria então que sou a brisa,
que brinco pela areia
e corto os mares,
que sou o vento forte certos dias,
balanço as árvores
e morro em teus cabelos...
Eu contaria que por vezes sou a chuva,
que presenteio a terra árida e sem cor,
que molho o teu rosto e te consolo,
que chego ao coração
e me transformo em lágrimas...
Queria dizer também que sou sorriso,
que tenho morada em olhos infantís,
que alegro te semblante tão sofrido,
me perco pelas ruas barulhentas
e me faço gargalhada na multidão...
Que em certas horas sou o rio caudaloso,
que impulsiono os barcos sem destino,
que alio minha força a tua tristeza
e te faço forte
quando estás em desalento...
Queria ainda escrever que sou humana,
que sendo brisa eu acalento sonhos,
que sendo chuva eu cultivo dores,
que no sorriso eu encontro a esperança
e sendo rio eu procuro meu destino...