Ex-romântico

Há algum tempo atrás eu fui romântico

Não o romântico literário, sonhador, libertador, condor...

Mas o romântico besta, que fala de amor

E presenteia a mulher amada com flores

Às vezes sinto falta daquele tolo romântico

Pois só o que me ficou após sua partida

É um eu cínico e incapaz de amar!

Um eu que já não pensa no amar e sim no deleitar

Ironicamente, talvez, tanta falta de amor fora combustível

E quando o mesmo sentimento chegou já não houve abrigo pra si

(Só o que encontrou foram escombros de uma velha moradia

Vazia e impregnada por um antigo perfume de outrora,

O desejo substituto da ternura e a vontade de alguém

Transmutada em vontade de um arem)

Eu quero voltar a amar! Sim!

Pois um dia Afrodite foi senhora de meu ser

Mas hoje, apenas Baco ou Dionísio reinam absolutos

Sou um infeliz que desaprendeu a amar

Que entupiu com orgias e incertezas

Um peito antes imaculado pelo pecado

Talvez tenha sido a tardança do amor

Talvez tenha sido o montante de dor causado pelo platônico intocável

Mas já não me importa a causa e sim o remédio.

Quero meu peito novamente desejoso e cheio de esperança

Por um alguém que talvez nem saiba quem sou

Por um alguém que, quem sabe, nalgum dia ainda por vir

Seja o futuro de minhas rimas tão mesquinhas

Que por tão pobres que são, quase não existem mais

Que agora jaz

Juntas estão sepultadas

Com o amor e a esperança de num dia puder

Ser eu, fruto e razão duma outra existência qualquer.