Dívidas

Tenho medo de escrever coisas

que metem medo

Intimidar é algo desastroso

Sinto que quem faz isso teme a própria sorte

Por isso tenho medo de dizer palavras podres

Cheirando fétidas mentiras

Coisas que saem da insanidade dos homens

Eu não quero ser assim

Nunca desejei a desforra

Apenas peço perdão

Por tudo o que fui

E pelo tanto que sou

Sei que não agrado a todos

E também sei que unanimidade

É algo ainda mais perigoso

Porque existe a mentira

E quando os homens mentem

A integridade evapora como bolhas de sabão

No ar

No mar

No lar

Em todo lugar

Eu quero apenas ser a notícia que todos leem

E antes de mais nada ser autêntico

Mesmo que isso fira alguns

Mesmo que me cause danos

Eu perdoo e peço perdão

Desentravo a vida

E corro atrás das imagens no sótão

Penumbra de minha vida

Lar da saudade

E não é fácil

Ninguém disse que seria

A minha fúria é santa

E a minha santidade é carma a ser pago

O preço foi alto

E a minha solidão é o meu refúgio

Poesia publicada no livro Viver: um jogo perigoso, de Márcio Martelli, Editora In House (2009).