Outras faces
Tem muitas partes de mim que desconheço,
outras que sei de cor.
Tem momentos meus em que sou minha própria essência,
outros, um diabo em forma de gente.
Sou assim mesmo, disforme quando necessário.
Sou a gota de orvalho na flor da manhã
e o pingo de chuva que cai na sua pele morna.
Sou o que você vê e deseja,
mas também sou o inacessível cofre sem senha
que tanto teima em decifrar e abrir.
Não, não me abra, nem tente.
Pandora despertou fúrias indesejáveis ao fazer isso.
Eu não quero atrapalhar a sua vida,
nem fazer parte de nada.
Quero seguir em linhas sinuosas
por esta estrada que meu caminhar me leva.
Onde vou chegar?
Não tenho a mínima ideia.
Sei que tenho de andar, andar e andar...
O destino talvez um dia se apresente
e, quem sabe, com fé o alcanço.
Esta minha faceta conheço bem, a de persistir.
E permanentemente fico otimista,
achando que a busca não é insana.
Que o inverno foi feito para hibernar e dormir tranquilo,
pois na primavera as flores voltarão.
E eu, que perdi esta estação
devo regar atentamente o futuro.
Porque ele vai chegar.
E com ele, as alvíssaras de um tempo bom.
Tempo de colher.
E eu, que sempre plantei sementes,
deverei colher flores e frutos.
Pelo menos é que está previsto.
Que não seja já pois não é hora.
E que a hora se faça já, pois é o momento.
Assim espero, assim espero.
Deixa o tempo decidir...
Poesia publicada no livro Viver: um jogo perigoso, de Márcio Martelli, Editora In House (2009).