A CHUVA (Cena de uma tarde chuvosa)
A CHUVA
A tarde ensolarada
É desvirginada
Por nuvens escuras
Cheias de vaidade
Que invadem
A privacidade
Sem licença pedir.
E como carrasco
Vai tomando
Todo o espaço
Sugando a última réstia
Estufando o peito
Dando sinal a vencida
Espalha a sua espada de fogo
E no jogo de domínio
Abre a artilharia
Sufocando o último
Suspiro da presa indefesa
A chuva cai
Saciando o jardim sedento
Lavando o velho telhado
Enverdecendo os tristes campos
Ressuscitando os secos rios
Regozijando os animais
Entristecendo a menina
Que num gesto solidário
Lança prantos à janela
Convidando-a para amar.
Um sorriso afoga a tristeza
Alegria explode no peito
De jeito sorrateiro
Pula a janela.
Abraçada sem controle
Não percebe
O decote rasgado
Sem rasgar
Os seios à mostra
Sem querer mostrar.
Saciada a volúpia
Como chegou fugiu
Envergonhada
Rastejando em ziguezague
A procura de uma toca
Escondeu-se no mar
A tristeza voltou
Outra lágrima caiu
Pelo amor que se foi
Sem ao menos um adeus
Sem ter dia pra voltar