A CHUVA (Cena de uma tarde chuvosa)

A CHUVA

A tarde ensolarada

É desvirginada

Por nuvens escuras

Cheias de vaidade

Que invadem

A privacidade

Sem licença pedir.

E como carrasco

Vai tomando

Todo o espaço

Sugando a última réstia

Estufando o peito

Dando sinal a vencida

Espalha a sua espada de fogo

E no jogo de domínio

Abre a artilharia

Sufocando o último

Suspiro da presa indefesa

A chuva cai

Saciando o jardim sedento

Lavando o velho telhado

Enverdecendo os tristes campos

Ressuscitando os secos rios

Regozijando os animais

Entristecendo a menina

Que num gesto solidário

Lança prantos à janela

Convidando-a para amar.

Um sorriso afoga a tristeza

Alegria explode no peito

De jeito sorrateiro

Pula a janela.

Abraçada sem controle

Não percebe

O decote rasgado

Sem rasgar

Os seios à mostra

Sem querer mostrar.

Saciada a volúpia

Como chegou fugiu

Envergonhada

Rastejando em ziguezague

A procura de uma toca

Escondeu-se no mar

A tristeza voltou

Outra lágrima caiu

Pelo amor que se foi

Sem ao menos um adeus

Sem ter dia pra voltar

Vilson Caraíbas
Enviado por Vilson Caraíbas em 29/03/2009
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