Cegueira
Eu caminho pela escuridão...
Ás vezes, um relâmpago...
Ilumina numa fração de segundos...
Só então eu sei:
Posso ainda enxergar!
Minhas mãos calejadas
Estendidas no ar...
Tentam apalpar o nada...
Para que nada venha
Ferir-me ainda mais...
Todas as boas virtudes
Ainda estão aqui...
Mas esconderam-se...
Fugiram...
Para dentro das cavernas
A mão, às vezes,
Toca algo que não pode
Identificar...
Causa repulsa...
Causa medo...
Causa insegurança...
Causa a causa...
É preciso seguir...
Caminhar...
Continuar...
E não sei onde estou...
E se estou...
À um passo do abismo...
Ou se nele já cai...
Se, ouço a voz...
Bravia do Trovão...
Virá a luz...
Que durará o tempo
Que as janelas abrem
E fecham...
E se vier...
Pois virá...
Saberei se ainda
Enxergo...
E se há Raios...
Se há Trovões...
Se há Relâmpagos...
As nuvens são negras...
Tão negras quanto a escuridão...
Pois não posso vê-las...
Nem senti-las...
Mas sei...
Sem sentir...
Estão lá...
E quando não mais
Houver as nuvens
Enegrecidas
E se dissiparem...
Verei a luz?
Se ainda meus olhos
Puderem ver
Verei uma luz?
Algo dói no peito...
No peito que grita...
Que grita sem boca...
Sem voz...
Então...
Volto meus olhos
E tento ver
Sentindo com as mãos
Se um espinho me feriu...
Olho pra dentro...
Vejo um ponto luminoso...
Vou até ele...
E caminho...
E sinto meus passos
Declinando-se...
E caminho...
Profundo...
No fundo...
E vejo nas cavernas
Chamas que dançam
Nas paredes interiores...
Vejo todas as virtudes
Ali reunidas...
É ali...
É lá...
Dentro...
É onde está a luz!
São Paulo, 24 de Fevereiro de 2009.
[Nota: Com áudio]