HERANÇA
Não quero que meu filho
herde a minha tosse
minha falta de ar
e essa sede insalubre
Não quero mais
sepultar os rios
dentro de torneiras
incendiar florestas
e passarinhos
e nem sangrar as geleiras
com o escapamento do meu carro
Eu quero poder parar
de me mutilar aos poucos
quero arrancar a gravata
tirar os sapatos
me deitar no chão
e poder enxergar
mesmo que ao longe
árvores descansando
tranquilamente
sob a acolhedora sombra dos homens