HERANÇA

Não quero que meu filho

herde a minha tosse

minha falta de ar

e essa sede insalubre

Não quero mais

sepultar os rios

dentro de torneiras

incendiar florestas

e passarinhos

e nem sangrar as geleiras

com o escapamento do meu carro

Eu quero poder parar

de me mutilar aos poucos

quero arrancar a gravata

tirar os sapatos

me deitar no chão

e poder enxergar

mesmo que ao longe

árvores descansando

tranquilamente

sob a acolhedora sombra dos homens

Marcelo Roque
Enviado por Marcelo Roque em 19/02/2009
Reeditado em 28/08/2011
Código do texto: T1447770