rio de janeiro
tudo passa numa velocidade incrível
as coisas agora andam muito mais depressa
o computador acabou com a separação de sílabas
na ilusão talvez de que tudo fique mais claro
é o meu faro, cada vez menos poderoso
as pessoas andam pelos ares
em busca de lugares
todo mundo pelos céus voando
com suas pesadas asas de aço
com toda a dificuldade pra obter passaporte
ou a sorte de não ter as bagagens revistadas
enquanto na terra continuamos andando
em nossos confortáveis pijamas de madeira
Aladim, sentado na esteira
querendo uma lâmpada maravilhosa
só uma coisa é esplendorosa
e nunca se modifica
ao contrário, se solidifica:
a eliminação de inumeráveis contingentes humanos
por motivos nunca-nunca religiosos,
energéticos ou econômicos
que, na contra-mão do computador,
não tornam o mundo mais claro
porém cada vez mais sombrio
e enormemente vazio
sento-me na beira do rio
e olho as águas que passam
na esperança que tragam
com elas um novo janeiro
Rio, 28/01/2009