Tempo de Esperança

As janelas de nossas casas abrem-se para o mundo
e as últimas notícias entram sem pedir licença.
Num tempo de esperança há quem ouse,
contrariar a regra vigente da fé no futuro melhor?
O mundo está em festa. Há esperança e prenúncio
da paz esperada, neste janeiro de um novo tempo.
Homens engravatados e suas belas frases feitas
multidão sofrida em volta aplaude estupefata.

Do meu canto espio calado as faces que brilham
de felicidade, mas os olhos ainda me parecem
vidrados, sem vida.  Será que sou pessimista?

Uma frase como um mantra repetida
penetra lentamente o inconsciente coletivo:
Sim nós podemos! Podemos? Quem podemos?
Como podemos? Quando podemos? Hoje? Amanhã?
Quem sabe daqui a quatro anos? Ou oito, com reeleição?
Seis mil anos de história humana contada ou conhecida
nos mostra a verdade ora rejeitada mas
                                                                 incontestável.
O poder da mudança não está com os poderosos
presos a mesma triste condenação,
obrigados que somos a dormir com o sol a pino.
Não há tempo, não há forças, nem idéias que
deixem com efeito de ser idéias.
Há entraves diplomáticos e diferenças de opiniões,
interesses conflitantes que não permitem consenso.

Mas há ainda esperança , e o povo canta canções
de liberdade e confiam as vidas àqueles que
se propõem a salvar o mundo.
Sim nós podemos! Podemos ter esperança .
Que esta não morra e mostre-se firme
farol a iluminar o porto de destino.
Mas não esqueçamos que esperança
é semente delicada , não germina em qualquer
terreno, é preciso ser semeador consciente para
fazê-la brotar com viço.

Sim, devemos ter esperança.
Nós precisamos crer que mudança está perto.
Podemos confiar que a salvação será certa e segura.
Mas confiança não se dá a qualquer um.
O salvador do mundo já esteve aqui, há dois mil
anos; poucos deram atenção às sábias
palavras  mas elas ecoam ainda
pra quem quiser escutar.