O OLHAR DO MEDO
Que olhar é este que me fita indagador
Que perscruta meu viver
Que teme o meu querer
Que foge sem partir.
Que olhar é esse no vazio
Que me enternece o coração.
Que me dá medo
Que me faz emudecer.
Olhar incrustado em lembranças
de noites frias no tempo.
De um tempo que já passou
e que muito pouco deixou.
Este olhar é o olhar atônito do homem
diante de outro homem.
Olhar de quem sangra no peito
ferido por um semelhante.
Jamais entenderei esta vida
de gente que se apedreja.
Nem poderei conceber
a vaidade, a luxúria e a miséria.
Só posso entender que a ternura
cure a alma mais dura.
E que retorna ao olhar
o lirismo e a candura.
Triste é o homem de olhar rijo
que fita a vida sem esperança.
Prefiro ser ferida por crer
do que permanecer viva sem viver.
24/02/2005