AURORA
AURORA
Pouco a pouco, é o amanhecer da sanzala,
Nos capinzais desta modesta vida,
Ao longe, um silvo de uma bala,
O comboio anunciando a partida,
O lagarto que corre espantado,
Ouvindo o longínquo bater do batuque,
O uivo do lince pardo
Num atirar de estuque
No baralhar das ideias…
De passos torcidos como um fardo
Lá onde tudo se divide a meias
O crepitar das chamas, na queimada,
O nevoeiro descendo sobre o rio,
O cheiro da terra molhada,
Os animais tremendo de frio
A nuvem de salalé rompendo a aurora,
O latir dos cães o cantar do galo,
Tudo serve para marcar a hora
De tudo o que se vê, e eu falo,
A fuba caindo na água fervendo,
O silêncio dos inocentes
O sol pouco a pouco, se vai movendo,
É a vida sem expoentes,
De quem a nada pediu…
Se arrastam as sombras,
De um corpo que se excluiu,
Pelas estradas curvas ou lombas.