AURORA

AURORA

Pouco a pouco, é o amanhecer da sanzala,

Nos capinzais desta modesta vida,

Ao longe, um silvo de uma bala,

O comboio anunciando a partida,

O lagarto que corre espantado,

Ouvindo o longínquo bater do batuque,

O uivo do lince pardo

Num atirar de estuque

No baralhar das ideias…

De passos torcidos como um fardo

Lá onde tudo se divide a meias

O crepitar das chamas, na queimada,

O nevoeiro descendo sobre o rio,

O cheiro da terra molhada,

Os animais tremendo de frio

A nuvem de salalé rompendo a aurora,

O latir dos cães o cantar do galo,

Tudo serve para marcar a hora

De tudo o que se vê, e eu falo,

A fuba caindo na água fervendo,

O silêncio dos inocentes

O sol pouco a pouco, se vai movendo,

É a vida sem expoentes,

De quem a nada pediu…

Se arrastam as sombras,

De um corpo que se excluiu,

Pelas estradas curvas ou lombas.

stavi
Enviado por stavi em 05/01/2009
Código do texto: T1368800
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.