Dúvida de um poeta

Abro a janela

De um prédio construído em 1945.

Vejo a cidade

E toda a ferocidade

Que a consome aos poucos,

Pelos próprios loucos que a habitam.

Observo a lentidão dos dias,

E ainda a calma com que sol se põe

E penso:

- Quem dera essa calma também a fosse

bem aqui... neste chão... deste planeta.

Tudo é tão turbulento

Diante meu desalento

E a lentidão da fumaça do meu cigarro

Que se esvai com meus pensamentos.

Estou no quinto andar.

Da janela pra dentro sou todo saudade

De tudo que é contrário a história...

De tudo que ainda não vivemos.

Da janela pra dentro

Sou apenas poeta

E poeta é sinônimo de sonho e de esperança.

Estou no quinto andar.

Da janela pra fora sou apenas um cidadão,

Como qualquer um que trafega com a história

E que vai tecendo os livros das escolas do amanhã.

Da janela pra fora

Sou apenas uma pessoa.

E pessoa é o antônimo de poeta.

Com o tempo

Me tornei íntimo da solidão,

Em meio a multidão que me cerca.

Não estou pronto para morte,

Apesar de saber que há o outro lado,

Mas gostaria que ela me batesse a porta

Para que me respondesse uma questão

Apenas...

- Se ao morrer a alma continua poeta...

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 27/12/2008
Reeditado em 27/12/2008
Código do texto: T1355375