Dúvida de um poeta
Abro a janela
De um prédio construído em 1945.
Vejo a cidade
E toda a ferocidade
Que a consome aos poucos,
Pelos próprios loucos que a habitam.
Observo a lentidão dos dias,
E ainda a calma com que sol se põe
E penso:
- Quem dera essa calma também a fosse
bem aqui... neste chão... deste planeta.
Tudo é tão turbulento
Diante meu desalento
E a lentidão da fumaça do meu cigarro
Que se esvai com meus pensamentos.
Estou no quinto andar.
Da janela pra dentro sou todo saudade
De tudo que é contrário a história...
De tudo que ainda não vivemos.
Da janela pra dentro
Sou apenas poeta
E poeta é sinônimo de sonho e de esperança.
Estou no quinto andar.
Da janela pra fora sou apenas um cidadão,
Como qualquer um que trafega com a história
E que vai tecendo os livros das escolas do amanhã.
Da janela pra fora
Sou apenas uma pessoa.
E pessoa é o antônimo de poeta.
Com o tempo
Me tornei íntimo da solidão,
Em meio a multidão que me cerca.
Não estou pronto para morte,
Apesar de saber que há o outro lado,
Mas gostaria que ela me batesse a porta
Para que me respondesse uma questão
Apenas...
- Se ao morrer a alma continua poeta...