Doa-se

Em um velho anuncio destes que se acha pelas ruas, as vezes até sujando a nossa cidade eu li:

Doa-se

Doa-se o que você mais precisar basta ligar e pedir de coração o que você precisar.

Achei estranho tal anuncio. Fiquei confuso e até desconfiando, por horas com o anúncio em minhas mãos pensando como alguém pode ser tão tolo ao ponto de fazer isso.

- Doa-se o que mais precisar e pedir de coração!

Ah! isso é no minimo estranho.

Enquanto as horas passavam e olhava aquele pedaço de papel já sujo de tanto ter rolado pelo chão, minha inquietude se tornava cada vez maior.

Quando desisti de pensar e dobrei o velho anuncio e no verso me surpreendi ao ler.

Você já doou hoje?

Não?

Ah! você trabalha demais e não tem tempo!

Então venha aqui e traga qualquer doação desde que seja de coração.

Então comecei a pensar que este cara nada mais é que um charlatão.

Mesmo assim pensei agora mais intrigado ainda... esse cara é louco, como ele pode doar o que não tem, todos devem procurá-lo apenas atrás de dinheiro.

Bom fiquei tão curioso, intrigado que decidi vou até o endereço.

Em uma alameda com sobrados altos que mais pareciam um curtiço vi um entre eles, lá bem no fundo onde o sol batia e mostrava mais um sobrabo não tão bonito quanto os outros, nem tão onipotente, mas, com algo diferente.

Bom ele era salmão uma cor assim envelhecida, as janelas eram brancas, incluse, depois percebi que eram de madeira daquelas bem antigas, pela parede subia um pé de rosas brancas que de tão florido exalava o seu cheiro por toda alameda.

Chegando lá vi um casal já idoso.

Lá ela com um sorriso no rosto me deu um abraço e o meu coração se encheu de uma ternura que talvez nunca sentira.

Eles então me convidaram para entrar e tomar um chá.

Passei momentos tão maravilhosos repletos de ternura que até me esqueci o que fora fazer lá.

Já no fim da tarde quando o sol quase se escondia atrás dos sobrados é que “voltei a mim”, então pensei que aquele anúncio talvez fosse só enganação.

Saí de lá prometendo voltar. Afinal o tempo que dispencei, áquele momento fora um dos mais bem aproveitados, estava tão terno, tão feliz...

Então parei no ponto da minha condução.

Voltei correndo até aquele lugar e os dois perguntaram: Meu filho você precisa de mais alguma coisa?

Foi quando tirei novamente o papel do bolso e li atentamente para eles ouvirem.

E eles responderam: Nós só oferecemos aquilo que cada um mais precisa.

Doamos o tempo, o amor que é o que você mais precisava.

Então eu disse: Não foi só isso. Acabo de aprender o que havia esquecido... que sempre há tempo...

Tempo para amar... Tempo para chorar... Tempo para fazer o bem.

Tempo para doar, se doar.

E a senhorinha: Meu filho o tempo de agora é para amar, doe amor e jamais sentira o que sentiu antes de aqui chegar.

Quando voltei me para ir embora li no final do anúncio, aonde falava para doar o que fosse necessário, o que fosse mais raro em mim, então entendi que recebi mais do que doei.

Que amei, me doei e nem notei.

GLAUC
Enviado por GLAUC em 11/12/2008
Código do texto: T1330397