ESTRELAS! CADÊ AS JANELAS?

Para quem já perdeu tudo em Inundações

Faltam as Janelas para ver as Estrelas

Faltam as Portas

Para sair em direção do Futuro

Faltam as Cortinas

Que são as mensageiras das emoções do Tempo

Falta o Tapete

Que recebe quem chega e que olha sorrateiramente quem sai.

Faltam as Vidraças para encostar o rosto

Aguardando o amor chegar

Faltam as Cadeiras que vazias são símbolos da Saudade

E com elas ocupadas assentamos os Pensamentos

Falta o Armário, alto, desengonçado, mas tão útil.

Ali estavam as roupas mais belas e os perfumes mais caros.

Falta o Espelho que sempre renovava a imagem

Ou a imaginação

Falta a Geladeira que gelava tudo

Do sorvete a sobra do feijão

Falta o Fogão que esquentava tudo

Mas nunca queimava mais do que o coração

Falta a Mesa da cozinha e as cadeiras

Quem sentava na ponta pagava a conta e sempre era ele

Mas agora? Quem vai pagar a conta?

Falta a Pia onde se lavava a louça, os alimentos.

Ali se lavaram os últimos pratos e as últimas canecas

Falta a Cama que era o ninho, que era o pouso de pássaros noturnos.

Ali surgiu uma nova geração feita em amor.

Falta a Televisão que insistia em comunicar

Que o Mundo estava desaguando, mas como acreditar?

Ela fala todo dia coisa ruim, graças a Deus, longe daqui.

Faltam os Trastes jogados pelas gavetas, pelos cantos, pelos ranchos.

Muitas coisas de nossa Vida são jogadas num canto do coração

Um dia as resgatamos e as transformamos em Vida nova.

Faltam os Sonhos que foram sepultados pelo barro, pela água e pela tristeza.

Não estavam ainda realizados, serão esquecidos mais facilmente.

Havia um Caminho entre as casas e entre os corações

Muitos se conheceram andando por ali

Nós o chamávamos carinhosamente de Caminho do amor

Hoje o Caminho não existe mais. Foi engolido pelos deslizamentos.

Será feita uma nova estrada longe daqui.

Mas será difícil de unir os corações novamente.

Erguer-se-ão Novas Casas

Novos Móveis serão doados

Humildemente se aceitará tudo o que os amigos solidários entregarem

E de coração serão todos abençoados.

Mas me falta aquela Caneca Rachada na borda.

Onde eu tomava o café quente olhando o sol nascer por sobre os montes, toda manhã.

Escutando o cantar das aracuãs, dos jacus e vendo o colorido das saíras de sete cores e do bonito-lindo.

Sempre achei que as Flores do Jacatirão seriam eternas, mas não foram.

Seus pés vieram abaixo de meus pés e suas flores hoje estão mortas.

As Águas que desceram do céu nos pareceram Lágrimas

E se a Natureza esta chorando tanto, muito Mal lhe fizemos.

A água levou quase tudo... Mas tudo ela não levou.

Deixou Pessoas, Almas, Corações, Sentimentos e Vontade de Vencer.

As obras passam o feitor também, mas o Amor fica.

E existe muito Amor neste momento. Muito mais do que ontem,

Quando ainda olhávamos pela janela a chuva que não parava.

Hoje o Amor se espalhou pelo Brasil.

Eles vieram junto com as Doações

Amores naqueles pacotes simples de supermercados, naquelas caixas grandes de papelão.

Vou parar por aqui...

Estão chegando novos caminhões carregados de Amor e é ele quem reconstruirá

As nossas casas, a nós mesmos e quem sabe recuperará ainda a minha caneca...

Do autor:

Como Poeta e pela proximidade sinto muito tudo o que aconteceu.

Este texto é uma ficção, mas foi fundamentado na verdade dos fatos.

Que Deus permita a todos renascerem não das cinzas, mas da lama.

02/12/2008 06h04 - Rejane Chica

Consegui entrar nesse local contigo, nesse versos tão lindos, falando de toda essa situação tão triste e que ninguém gostaria que estivesse acontecebdo. Lindo! E é mesmo a solidariedade e o amor que está ajudando ...Um abraço e que mesmo com todas as tragédias , nunca percamos os sonhos e a vontade de viver pra realizá-los. chica

Robertson
Enviado por Robertson em 04/12/2008
Código do texto: T1319307