SENTIMENTO QUE DORME NA INSÓNIA

Escuto a incerteza dos murmúrios que encontro no meu caminho carente,

procurando instantes de coisas novas no silêncio,

na frágil culpa do pensamento doente,

atravessando um lugar perfeito em mim grão de areia pelo deserto onde adormece o tempo imperfeito,

embalado pela vertigem da memória arremessada ao abismo do passado que corre ao meu encontro.

Resto oculto na sabedoria de dizer esperança que ondula na vastidão esquecida no meu corpo,

ainda madrugada à deriva pelo ruído da minha loucura.

Levito agitado pelo amadurecimento dos meus movimentos mais ousados,

cavalgo o engodo da escuridão extrema onde brilha um infindável sentimento que dorme na insónia,

onde flui a aresta de uma luz solitária que encobre o meu rosto com chuva despojada de lágrimas,

iluminando o esgotar da alma pelo ventre das sombras nuas que bebem de mim a seiva da juventude derramada na minha ausência encostado ao eco do vazio,

que me contorna o olhar preso na distância

que estremece na palavra do antes silenciado a frio oco pela despedida,

na palavra do durante fora de tempo que abate sobre mim o quão da tristeza,

na palavra do após dos receios escondidos nas minhas fomes sádicas de onde emerge a virgindade perversa

dos meus poemas para além dos sentidos.

Invade-me a saudade inculta do desconhecido num abraço de gelo onde me perco em fúrias e raivas

nas asas de uma dor morta pelo morno dos meus sonhos.