DEPOIS DA MADRUGADA
Sinto meus ossos alquebrados, durmo num leito de amargura;
Sofri insigne censura, perdi no jogo sem regras;
São inúteis as preces e rezas, sou dilacerada nau-criatura;
Na madrugada gritando por cura, varrido ao vento e sem velas!
Entre meus dentes o fel deprimente da injusta decepção;
Por dentro gemidos de exasperação, mandando dar cabo de mim;
Certeza do inesperado fim, nesse estopim em detonação;
Eu sou aquele convite vão, a quem a madrugada não disse sim!
O lírio aflito que o orvalho rejeitou;
O pão que se deteriorou no suco gástrico da desesperança;
A mão traspassada pela ponta da lança, criança que a mãe despistou;
Folha seca que a madrugada pisoteou, órfão da paz e sem herança!
Até que me vence o sono sob escombros da dor que me fez desfalecido;
Logo em sonhos detido, para me ver mais feliz como aqui não me vi;
Tudo que eu senti e que eu compreendi ser eterno castigo;
Não está mais comigo, pois já amanheceu e eu sobrevivi!
"Há sempre uma rua além da porta"