Recado da insônia
Ontem a noite,
O sono me fugiu...
Se foi, partiu...
E deixou mil bobagens em seu lugar.
E eu fiquei ali a pensar,
Na escuridão do quarto,
Entre as cobertas quentes...
Esperando, paciente,
Que o sono fosse voltar.
Entorpecida, ficava a me revirar...
Mas adormecer?
Que nada...
Toda vez que o sono se avizinhava,
Fazendo minhas pálpebras pesar,
Algum devaneio me despertava.
E me virava
E me revirava,
Inquieta...
O dia me alcançaria,
Em breve,
E nada de dormir ou sonhar.
Nem mesmo o poetar,
Amigo tão constante nesses momentos insones,
Fazia companhia para mim.
Desisti, enfim...
E resolvi me levantar.
Uma madrugada gelada se estendia,
E eu vagava pela casa vazia,
Onde todos dormiam...
Menos eu, que estava a zanzar.
Diante de uma janela resolvi sentar
E observei o céu alterar suas cores...
Do negro pontilhado de estrelas,
Aos poucos, de ouro, vermelho e laranja se tingiu...
E magnífico, o sol enfim saiu,
Revelando as teias orvalhadas, na luz a brilhar...
E nessa hora silenciosa,
Entendi o recado de minha insônia...
Depois de tanta tristeza,
Tanta coisa medonha,
Era hora de ver o dia nascer...
De ter esperança,
De sonhar...
O mundo mudou,
Apesar de continuar o mesmo...
Me libertei...
É hora de recomeçar.