O MAR

A lua e a relva foram ver o mar.
Dele, uma queria o frescor, a outra, se apaixonar.

Delas, ele queria tudo, pois o mar nos toma tudo.
A lua hesitante tocou o mar no alvorecer
A relva sorrateira se chegou sem perceber
O mar, que tudo toma, se deixou aquietar

A lua, distraída, se permitiu levar
Se envolveu, se refrescou e ao tocar o mar
Revigorou..... os dois se tornaram um enquanto a lua sucumbia em êxtase.
Sem perceber o mar lhe tomou, lhe tomou por inteiro
E ela foi se rendendo, minguando, até não mais enluarar

A relva, envaidecida, mais que depressa espreitou
Enciumada se entregou e de súbito se deixou molhar
Encharcada pelo frescor do mar, se assoberbou
Achando ela que o conquistava, se deixou conquistar
Achando ela que o dominava, se viu dominada

Depois de tomar a lua e encharcar a relva, o mar se deitou
Em meio à empáfia se lembrou
Sem a lua e a relva que beleza eu teria?

A lua, a relva e o mar, não podem ser e não são nada
Sem que um possua o outro sem se deixar dominar

São como eu e você, meu amor, nos pertencemos sem nos permitir pertencer.

A lua era a paixão; a relva, a saudade,
o mar....
Ah! O mar? O mar era o amor...... que nada tem por tudo possuir
Que não sente falta de nada pois nada lhe obriga
Que não se machuca pois não se apaixona
Que não se despede pois não deixa o laço se formar
Que não sucumbe pois não se deixa aproximar

Mas um dia, meu anjo
O mar vai lhe tomar
Pois eu sou a relva e a lua a te banhar
Espero você me aceitar - relva, lua e mar.