DANTE OU DRUMMOND: "No meio..."

«... Os jovens mortos, em arcos

concêntricos admiram as mulheres e os homens

mortos, escrevem em folhas

esta imagem, branca. ...»

(Celso Álvarez Cáccamo, «Os homens mortos

repousam em leitos de folhas ...», poema colocado

no foro "Só poesia", do PGL em Ter Set 23, 2008 1:20 am)

Celso: O poema que leio

parece-me eco leve, mas extremado

do poema grandioso, aquele que pôde começar,

mas não, assim: «Achei-me, perplexo, no meio do caminho...»

Sei que não evocas tanto ao Dante,

quanto ao Drummond,

não ao Dante Alighieri, filho de Aleghiero

ou de Alaghiero di Bellincione

(da família florentina dos Alighieri,

ligada à corrente dos Guelfi, aliança política envolvida

numa complexa oposição aos Ghibellini),

e de Donna Bella ou Gabriella dos Abati,

mas ao Carlos Drummond de Andrade,

o poeta brasileiro e modernista,

nado em Itabira do Mato Dentro,

no longínquo 31 de outubro de 1902,

de família de fazendeiros em decadência

(dizem os que narram, sucintos, a sua vida...)

e estudado em Belo Horizonte

e no Colégio jesuítico Anchieta de Nova Friburgo,

de onde foi expulso por "insubordinação mental".

Não sei, Celso, se os poetas (vou "falar" quase como tolo)

precisamos, como Dante, Beatrice,

que nos guie, inocente anjo feminino,

sem conformação carnal,

nem provocadora a lascívia torpe...;

que na nossa atividade poética nos conduza

(sem tropeçarmos com pedra nenhuma no meio do caminho,

segundo ela faz na “Divina Commedia”)

à beatitude, à satisfação perene e suprema,

em suma, à felicidade, ela, Beatrice,

"Portatrice di Beatitudine", até ao Paradiso,

em que acaso valha a pena acreditar...

Será então que os jovens tomem vida

e, concêntricos ou excêntricos, admirem

as mulheres e os homens que vivem ou já não,

que em folhas ou em tempo ou em pedra

deixaram a imagem branca

e insistente da sua existência mais do que dos seus factos.