Persistência
Do rigor climático inesperado,
Se expandindo em enormes boqueirões.
Surgem deformados pelas pertubações,
Esqueletos de granito e calcário.
Sob a lua que quatro vezes se recria,
Se adapta na secura a flora.
Das quadras que não tem hora,
Excruciante o espetáculo se reinicia.
No deserto adusto ardendo.
Palmatórias, mandacarus e catolé.
Diversificando, manjeroba é café.
Vidas secas vão vivendo.
Carcarás, gaviões,
Poeira no chão,
Um "CHICO" tão são.
Verdes criações.
Milho, fava, feijão,
Gado a solta,
Vaqueiro envolta,
Englobam sua alimentação.
Sopram ventos de fogo.
Devasta-se a vegetação.
O sertanejo perde seu grão,
Levando-se a viver num jogo.
Já nos corpos das vacas magras,
Raízes, frutos e sementes,
Incrivelmente resistentes,
Estranhas, tóxicas e bárbaras.
Ossos aparecem.
O ventre incha na azia.
Se expande a hidropisia,
As carências enaltecem.
Por não ter o que comer,
Zomba da fome devoradora,
Enfrenta a fobia aberradora
Mais uma vez tenta sobreviver.
Perde o medo de se aventurar.
Sem destino na estrada cai.
Porém se a saudade não vai,
Pra terrinha espera um dia voltar.