ANJOS DE BARRO

Encontraram-se um dia,

nos peregrinos momentos de outubro,

uma mãe, um filho, uma pérola,

uma lágrima e uma estrela.

Falou ufana a mãe,

Carregando consigo o filho amado,

e singelos presentes ao lado:

"Filho, dou a você a pérola,

na prova do meu amor,

dou a você a estrela,

na busca do seu louvor.

Conheça a lágrima,

trêmula, queda e silenciosa,

de agradecimento ao Senhor"!

Falou a estrela, bela,

diáfana e brilhante:

"Desci das alturas luminosas

sou muito bela,

a mais alta lá do céu.

Trago toda a amplidão e não tenho

receio de acreditar na eternidade.

Acendo o firmamento,

levo luzes firmes ao vento,

sou a criação deslumbrante,

do universal, da glória, da divindade."

"Entre o céu e a terra

brilho poderosa.

E não tenho nos pés do céu

os feios barros da terra"...

Estou lá em cima,

Bem lá em cima,

E com louvor

Iluminarei o seu chão...

E a pérola interveio,

Vaidosa e aflita:

"Entre o céu e a terra,

não passa de grão do resplendor

não iluminará o suficiente

na poeira do infinito".

"Eu, sim, tenho imenso valor.

Vim dos mares e oceanos,

das profundezas dos rios,

das correntezas discretas,

das naturezas encantadas.

Iluminarei o seu amor,

sem pompa e estardalhaço.

Brilho no colos de rainhas

nos soberanos, nas suas

coroas reais,

sempre,

com reflexos siderais.

E você será conhecido,

por ser o dono da pérola.

Sua mãe agradecida,

pisará firme no futuro,

da sua terra e espaço.

Sou pequenina,

mas valho mais que a estrela,

sou como a gota d'água,

E não tenho nos pés da água

os feios barros da terra"...

Retrucou a lágrima com mágoa:

"Nenhuma de vocês possui o encanto,

dos orvalhos perfumados,

dos braços da alvorada

que cobrem radiante

rosas e flores ditosas.

Eu sim,

não vivo em ostentação de luxo,

e na vibração do firmamento.

Mas conheço as misérias,

Sou profunda,

sem ser efêmera.

Bailo no riso da alegria,

e procuro o alívio da dor.

Sou perdão de crimes.

Nasci do sublime dom do amor.

Eu sim,

procuro atender a todos,

Do justo ao pecador

Do servo ao rei

Ser...

No coração de um filho, relíquia.

E no coração de uma mãe, saudade....

Procuro o espírito do mundo

Rolada, fria e ousada.

Embora torrencial no coração,

sou tão pequena e redimida,

que não conheço

os feios barros da terra"...

Passaram-se os anos,

Mãe e filho se encontraram.

Na estrela da manhã e da madrugada.

Na pérola sem tamanha glória.

Na lágrima que abre, no momento preciso,

todas as cortinas da vida...

No entanto, a lenda conta que a mãe indagou

à estrela que não soube responder:

"Estrela, quantos pecados já lavei,

você que mora na mansidão do céu,

é translúcida e brilhante,

ao ver o meu filho, humildemente,

balançar corpinho franzino,

serenamente,

na vastidão vazia?"

Dizem, que a estrela se escondeu na nuvem

e chorava arrependida...

No entanto, a lenda conta que a mãe indagou à pérola que não soube responder:

"Pérola, quando o paraíso se abrirá

na fala do meu filho amado.

Quando saberemos que ele possui o encanto, do destilar de beijos e ser até oração.

Quando saberá que tem uma paixão,

proteger os valores que lhe atenda os anseios? "

Dizem, que a pérola desceu às profundezas

dos mares e chorava também.

No entanto, a lenda conta que a mãe indagou à lágrima que soube responder:

"Lágrima, você que traz as bênçãos do Senhor,

que se diz celeste e ingênua,

catalisadora e mansa.

Por que não tenho você nos meus olhos?

E não a vejo também nos olhos do meu filho amado.

O que vejo é diferente.

São olhos vazios, a buscar o infinito, mas sem nenhuma emoção."

"Meu filho é um anjo de barro, que toca bem o chão.

Sentado, num canto, corpinho torto, sem eu saber a razão."

Dizem, que a lágrima se calou ressentida,

na lembrança daqueles anos.

E respondeu:

"Embora seu filho, Mãe, seja um Anjo de Barro,

é uma alma de ternura e harmonia,

é lembrança no seu coração cansado,

mas a ampliar, navegando alegrias.

Será um dia, um anjo do céu,

Um estribilho na vibração do amor,

Um estribilho na lira dos poetas."

A mãe se calou e a lágrima sorria...

Silvania Margarida - 2002

Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 31/08/2008
Código do texto: T1154652
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