boca de estrada
pele não cansa
de ser alisada,
pele não cansa
de ser curtida
e, ressequida
na boca da estrada,
se mais usada,
mais atrevida
pele duvida
da madrugada,
mas nunca pede
perdão ou guarida
e, se ferida,
não fica magoada
ou apavorada
por não ter saída
pele vencida,
se desarmada,
se vê obrigada
a ser consumida,
e nas barracas
da boca da estrada,
ele é comprada
ou oferecida
mesmo que a pele
não seja tratada
com o carinho
que a faz merecida,
sem pele a gente
não seria nada,
pois ela reveste
não só uma vida,
mas toda a idéia
que for concebida
e se for esquecida
na boca da estrada,
a gente ali perde
o ponto de partida,
tal como a tristeza
que sofre sem ter
o calor da noite
pra estar aquecida...
Rio, 30/07/2008