DORMIR NO BANCO DE PRAÇA
Madrugada sem hotel,
numa praça deserta,
em Recife.
Deitado no jornal do dia,
esperando a noite passar.
Um guarda noturno passa
tão solitário quando seu assobio.
E eu poderia estar em casa agora.
E eu poderia ter pago
o mais caro hotel da cidade.
Mas este poeta,
este menino,
é guiado por Deus.
Sempre há o que aprender
dormindo num banco duro
de uma praça fria.
Sim, sempre há o que se ver
nos lugares que nem todos olham.
Sim, sempre há o que se fazer
num quarto vazio.
A mente vaga
por lugares ainda mais longe
onde não iria
intimidada por um luxo,
uma lei,
um medo.
E isso praticamente não há
numa madrugada,
numa praça deserta,
há mais de 2 mil quilômetros
de casa.
(Praça 17 – Recife /PE – 1979)