ESTRANHEZA

Exausto de mim mesmo,

Lancei-me dentro do espelho

À procura de meu sentido.

Todas as minhas marcas,

Todas as minhas manchas

De nascença

Tinham sumido.

Eu era um estranho

À busca de meu princípio.

Havia em mim agora

A frieza de um azul incontável

E a profundidade de um oceano

Corrompido pela superfície do vidro.

Sem ostras retraídas.

Sem pérolas inatingíveis.

Estava eu dissecado.

Indefeso.

Encantado.

No mergulho que me deixei dar

No fundo do espelho de meus inversos,

Foi que me reconheci;

Bem quietinho, bem escondidinho,

Alojado em meu lado esquerdo.

O espelho tem esse vício encantador:

O de mostrar o sentido,

O de mostrar o princípio

Sempre pelo lado esquerdo.