NATUREZA MORTA (Reedição)

(Hoje, em reedição, porque este poema é um grito que marcou...)

Olho, lá fora, o dia amorfo..

A Natureza cansou-se e retirou as forças,

para lá do nevoeiro cinza-opaco,

que serve de abóbada à quietude da paisagem...

Em dias assim cai sobre nós o peso da Vida!

Não há brilho de solo, a lembrar-nos laivos de felicidade

que já perpassaram o nosso caminho!

Não há sopro de vento, a agitar recordações suspensas...

Nem resquícios de chuva,

a afogar-nos a mágoa de lágrimas choradas...

Só o silêncio quieto dum fim de tarde de Inverno.

A morbidez pálida dum retrato antigo.

Árvores nuas de verde e despidas de ânimo

e um calmo desassossego de tempestade latente...

Grito, no frio silêncio!!

Quero decantar a Vida,

Refazer as estrofes do meu fado!

Remisturar as cores com que pintei meu quadro!

Desafiar o tempo, rasgar o cenário inerte,

Não esperar que a Primavera me liberte!

Voar contra o vento, como abelha molhada,

Desafiando a chuva, em intrépida cruzada!

Buscar o sol, com asas de esperança,

E, na queda iminente, reinventar bonança,

Só para ganhar força e prosseguir viagem,

Porque ainda lateja Vida na paisagem!!