CRENÇA

Cabe-me a loucura lúcida de acreditar

na improvável leveza ambígua:

o pisar das patas de um elefante

enquanto passo afável, lento.

Pressentir o derradeiro perfume

de rosas vermelhas e brancas

enquanto destroçadas pelo vento

- dar-me a mim a certeza da dúvida.

Resta-me a guarda dos relâmpagos

dentro de uma noite inválida

- natureza à solta, embrutecida

enquanto prefiro-me platônico.

Sem aviso, tratar a ferro e fogo

golpes implacáveis do destino

- arrancar-lhes o coração pela boca

enquanto recomponho minhas forças.

Basta-me decifrar o enigma de cristais

em espelhos quebrados

- reacender sonhos de infância

enquanto disfarço a realidade.

Diante do breu das horas cínicas,

inventar luminosidades:

correr às cegas

entre o medo e a circunstância.

Ante risos e espantos outros

esconder a fugidia lágrima,

enquanto a vida vai fluindo aos poucos

sua imutável verdade vária.

Flavio Villa Lobos
Enviado por Flavio Villa Lobos em 15/06/2008
Código do texto: T1035182
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