CARTÃO POSTAL

CARTÃO POSTAL

(Para Dra. Goiana)

Platéia de areia

aguçando os olhos brancos,

o mar molhando seus pés,

pés de menino

corpo de menino

braços pequenos rumo ao desconhecido,

mar adentro, cavalgando

as ventas abertas, xucro

potro novo, bufando e cuspindo

seu futuro.

Fora da raia

esgueirados olhos compridos

tirando a areia branca

as sungas e os biquines

e lambuzando com dedos solares

os peitos e as bundas.

Água de coco gelada

cerveja, distraído (de propósito)top less

e os bombados exibindo suas

inteligências nas musculaturas.

Mergulhado em arrepios

o novo sonhador

nas bravuras do mundo azul...

nas bravuras do mundo escuro

salgando suas entranhas

cospe

tosse

rolando sem direção ou rumo

e com o que tem,

sei lá o que tem,

se ajeita

se vira

na abissal turbulência da fúria

com fome, a devorá-lo.

Seus pés aparecem,

ora suas mãos no redemoinho,

a cabeça nos bufos espumantes

sobe, desce e some

lambendo a areia no fundo escuro.

Não sei quanto tempo,

quantas horas ou dezenas de anos,

quanto tempo após não sei...

nas pedras seu corpo inteiro.

Inteiro com sede,

inteiro sem forças

inteiro cuspindo o estômago,

o sangue ardido,

membros dispersos

quebrado, alquebrado, esquecido.

Estatelados olhos vermelhos

se arrastam nas pedras pontudas

ao nascer do sol

e continua a procura do cartão postal :

mar azul, barquinho com coqueiro.

Fzda. Parati 17.05.2008