Vazios espaços

tristes pétalas esvoaçam

de minha alma desfolhada

por suspeições lacerada

onde o jardim que floria?

o lago que me banhava?

a ponte que nos unia

em deleitosa harmonia?

abriram os cadeados

ataram-nos em madeiros

separados

minha mágoa guardo em chaga

a alma ardendo em chispa

coberta agora de cinza

petrificada na areia

derivo sem âncora alguma

sem um cais onde me acolha

sou tão só a peregrina

sem vereda

que a sua cruz carrega

num deserto deambula

desgarrado no restolho

jaze o meu caule tombado

o fogo devora a palha.

Maria Petronilho

Lisboa, 8/7/2004