Deserto
Hoje, sou o que resta daquela paixão avassaladora.
Fantasma daqueles dias tão doces.
Caricatura de traços tão inseguros,
versos mal terminados de poesia sem rima.
Astro opaco, sem brilho, sem lustro.
No meu coração já não viceja aquele amor.
Já não pulsa, ali, a alegria de te ver.
Túmulo abandonado e descuidado onde
permanece, insepulto, aquele amor.
Lágrimas já não tenho.
Sou apenas uma careta horrenda,
resquício daquele sorriso
outrora companheiro.
Nem o vento quente em noite fechada
consegue me agitar.
Nem a chuva gelada tem o poder
de me chocar.
Retrato velho, jogado no chão.
Entulho desprezado,
veia onde o sangue não corre mais.
Terreno árido.
Deserto definitivo.