CHOVE LÁ FORA... EU...

Chove lá fora... Eu...

Hoje acordei banhado

Naveguei em lágrimas...

A chuva caia!

Meu sexo indiferente

aqueceu depois na água quente

da banheira e da esponja macia

Limpei os despojos

D’ um outro alguém...

Me sinto um lixo.

Como pude fazer sexo

assim sem amor?

Como pude deixar ir assim além?

Como pude deixar teu corpo cravar-se ao meu.

Me fazer homem.

Me fazer mulher?!

Arrancou meus medos

Me marcou o corpo

com os dentes seus...

Meu Deus como foi fácil

me perder nos braços

me deixar levar

sem embaraços!

Pela pele, pela força.

Algo que atordoa.

O poder d’um olhar...

Me fez gemer

me fez suplicar

Cada vez por mais!

De manhã foi-se embora

Só eu fiquei

com a vontade

de não ter deixado ir embora

Quem muito

n’uma noite me deu!

.((POET HA, Abilio Machado. 0499)).