VENENO DO DESPREZO
Supus teu olhar sereno
a embalar os olhos meus,
mas o meu peito sofreu
do teu desprezo o veneno.
Quantas vezes desejei
essa ventura infinda
de um amor que, eu achei,
(Por quê? Nem eu mesmo sei.)
pudesse ser meu ainda.
E acho que foi no querer
gozar teu sorriso pleno
que desandou o meu ser
e, assim, sem perceber,
supus teu olhar sereno.
Não sei por que cargas dágua
pude eu supor sereno
teu olhar fonte de mágoas,
muita dor, instante frágua,
que nada tinha de ameno.
Terá sido por loucura
que o meu peito percebeu
a inconsistente ventura
de teu olhar de doçura
a embalar os olhos meus.
Fui atrás de outros amores
para o meu pranto secar.
De mim se foram as dores
minha vida novas cores
passou, então, a ostentar.
Pude ressurgir da bruma
em que o amor me meteu;
meu triste ser, hoje, alguma
tranqüilidade ressuma,
mas o meu peito sofreu.
Válida lição, enfim,
Foi o ter-te conhecido.
Ao ver-te zombar de mim
desprezando-me assim,
quase morro enlouquecido.
E, a muito custo, entendi
que de todo mal terreno
o que mais forte sofri
foi quando, por fim, bebi
do teu desprezo o veneno.