VENENO DO DESPREZO

Supus teu olhar sereno

a embalar os olhos meus,

mas o meu peito sofreu

do teu desprezo o veneno.

Quantas vezes desejei

essa ventura infinda

de um amor que, eu achei,

(Por quê? Nem eu mesmo sei.)

pudesse ser meu ainda.

E acho que foi no querer

gozar teu sorriso pleno

que desandou o meu ser

e, assim, sem perceber,

supus teu olhar sereno.

Não sei por que cargas dágua

pude eu supor sereno

teu olhar fonte de mágoas,

muita dor, instante frágua,

que nada tinha de ameno.

Terá sido por loucura

que o meu peito percebeu

a inconsistente ventura

de teu olhar de doçura

a embalar os olhos meus.

Fui atrás de outros amores

para o meu pranto secar.

De mim se foram as dores

minha vida novas cores

passou, então, a ostentar.

Pude ressurgir da bruma

em que o amor me meteu;

meu triste ser, hoje, alguma

tranqüilidade ressuma,

mas o meu peito sofreu.

Válida lição, enfim,

Foi o ter-te conhecido.

Ao ver-te zombar de mim

desprezando-me assim,

quase morro enlouquecido.

E, a muito custo, entendi

que de todo mal terreno

o que mais forte sofri

foi quando, por fim, bebi

do teu desprezo o veneno.

Edmilson da Silva
Enviado por Edmilson da Silva em 16/04/2008
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