SEM SENTIDO
Pelas horas de ausência nesse poço aberto
um céu de amianto me vê tão ignoto
e vem me acordar em meu pasto já deserto;
indago abismos, acendo rosas, me embriago roto.
Tenho em mim mil anos de doeres
e entre olhos e olhares, e a oclusa porta
não movo meus pesares, nem prezeres;
não há infinitos ao quadrado da distância torta.
Folheia-me o vento uma página descorada
e vai transvivendo em mim quase triste;
sob raios póstumos da aurora arrebatada
subo ausente no degrau que inexiste.
Fecha-me a vida o último portal;
escorrem de mim as vésperas geladas;
mas o derradeiro poema está escrito, afinal.