SERTÃO POBRE.
Coloquei na panela
Os temperos que tinha,
Um pouco de sal
E o fogo da lenha,
Umas ervas daninhas,
O amor que ainda havia
Na alma prenha
De esperanças contidas,
Ilusões perdidas.
Coloquei ainda
A carne suada,
Um pouco de água
Que o sertão ainda tinha,
Junto minha mágoa,
E a de meus entes sedentos,
Coloquei esperança de um dia
Viver como gente,
Num Sul mais decente
Que este Norte insolente.
Na panela da vida,
Coloquei o viver
De um corpo faminto.
Uma dor que sem jeito
até hoje ainda sinto,
coloquei meu suor,
minha sina,
minha dor,
E para o Sul embarquei
Meu Ser, minha gente,
Minha fome,
Minha mente.
( D'Eu )