Eclética Dor de Um Moribundo
Mais um trago – e insiste a dor!
O flagelo é nítido:
derrota de músculos e ossos,
falência múltipla,
redenção.
Apresento-lhes a carcaça!
Ei-la aqui, explícita,
para quem quiser ver...
Os senhores, transeuntes apressados!
Corpos molhados,
cérebros embotados...
Observem-na atentamente.
Cá está a criatura moribunda,
o esterco onipresente,
a escória nauseabunda,
uma história adjacente,
criada na lama,
nascida no drama,
num caldo brejeiro.
Cheirou, fumou, injetou...
Vendeu seus restos de amor,
sua complacência, a discreta essência,
a crença no dia em que finda a noite.
Porque o verbo é o açoite,
e o verso é o avesso.
Apêndice das luzes urbanas,
antítese da beleza sintética:
és toda a mistura poética!
suores, verminoses, resmungos,
vertigens, amputações da verdade,
grunhidos, fungos.
Estás jogada nos cantos
da cidade, aa cidade.
Que, acordada pelos sinos,
cai em prantos matutinos
enquanto entoa-se o hino
dessas nossas veleidades!!!
Adri Engelbart