Eclética Dor de Um Moribundo

Mais um trago – e insiste a dor!

O flagelo é nítido:

derrota de músculos e ossos,

falência múltipla,

redenção.

Apresento-lhes a carcaça!

Ei-la aqui, explícita,

para quem quiser ver...

Os senhores, transeuntes apressados!

Corpos molhados,

cérebros embotados...

Observem-na atentamente.

Cá está a criatura moribunda,

o esterco onipresente,

a escória nauseabunda,

uma história adjacente,

criada na lama,

nascida no drama,

num caldo brejeiro.

Cheirou, fumou, injetou...

Vendeu seus restos de amor,

sua complacência, a discreta essência,

a crença no dia em que finda a noite.

Porque o verbo é o açoite,

e o verso é o avesso.

Apêndice das luzes urbanas,

antítese da beleza sintética:

és toda a mistura poética!

suores, verminoses, resmungos,

vertigens, amputações da verdade,

grunhidos, fungos.

Estás jogada nos cantos

da cidade, aa cidade.

Que, acordada pelos sinos,

cai em prantos matutinos

enquanto entoa-se o hino

dessas nossas veleidades!!!

Adri Engelbart

Adri Engelbart
Enviado por Adri Engelbart em 24/03/2008
Código do texto: T913913
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