Da forma ao desconcerto
Nas janelas os abutres perseguem a podridão.
As casas enfeitadas, os sinos badalando e a sonolência.
É o circo que chega à cidade, e o ritmo que vira substância.
Tudo num só compasso, tudo numa só dança, numa doença viral.
A mão que desenha contornos infinitos,
e as curvas que modelam sonhos e prazeres.
A cabeça vê, pensa, e cai no túnel do tempo.
A tristeza chora a perda de um filho.
A mente imagina e relativiza a presunção.
O construtor sobe o muro da pretensão e lá fica.
Sem jeito de homem, sem cara de sujeito,
ele não é pronome oblíquo nem incógnita.
Os olhos cegaram mais uma vez a tarde abalada,
as montanhas correram novamente em fuga,
os pés queimaram numa terra sem seringueiras, sem riscos.
O rascunho rascunhado terminou sóbrio, pequeno, amassado...
Quem mais senão o tempo, que corre para longe, iria fadigar-se?
Porque as mentiras, as respostas, as bocas insatisfeitas com um beijo?
Onde mais procurar? Se esconder? Cantar a timidez exausta?
Ah, se o canto falasse! É, aquele mesmo canto sem dono, sem rumo.
Um sorriso jogado pra fora sem destino.
Um protótipo de ribossomos e datas perdidas.
É um poema, um lixo escrito em versos fedorentos,
jogados ao pó da escuridão...