Último pedido

*

Enterrem minha alma

no espaço

indivisível

entre a cruz

e a espada.

E sobre ela

lancem

olhares e críticas perversas

Mas não deixem de matá-la

Enterrem

meus passos

na curva do caminho

entre o vento do destino

e a voracidade do rio...

Mas não deixem

meu passado

exposto ao relento

no impetuoso frio.

Levem

em sacos vazios

as últimas palavras

de alguém que morre

sem conseguir

ver o último pôr do Sol

sonhado

rabisquem

em pedaços de papel

o poema que nunca foi

escrito

Inenarrável!

Pedaços

de um sonho qualquer

esquecido...

Mas, não deixem

que morram meus mundos

nem meu amor-lírico

Enterrem meu corpo

antes de enterrarem meu poema

Pois eu

não sobreviveria

a morte de um filho.

(Jessiely Soares)