O Moço
Eu tive um Moço
Ele não era assim,
Propriamente meu
Mas tive-o.
Não duvide.
À primeira vista,
Aversão!
Era exageradamente corado
Intrigantemente diferente
Insistentemente alheio.
Depois,
Ah!
Quis crer que seu rubor em excesso
Era excesso de vida.
Quis aceitar que sua excentricidade
Era sim ser autêntico.
Quis ver que sua indiferença
Era apenas distração.
E fui
Agora,
Tinha Ele voz de menino
Mas discurso de gente grande,
Uma risada até estridente
Mas boa, boa de ouvir.
E assim, meu Moço nascia
Tomava forma
Eu o criei.
E quanto a mim?
Eu fui invisível
O tempo inteiro.
Embora, quase sem querer, um beliscão
(ou fora uma pisadela?)
Quis tirar-me a condição de vazio
Afinal
Seus olhos perceberam-me
Suas mãos, travessamente, tocaram-me!
Mas
Fora inútil.
Eu era mesmo apenas a ausência de ser
O tempo inteiro.
Até que um dia,
O inevitável:
Meu Moço já tinha moça
E esta, não era eu.
Tudo simples depois:
Desintegrou-se Ele
Assim
Na minha frente.
Ficou nu.
Acabara
O riso estridente
O rubor das faces
O discurso ousado e ingênuo.
Eu tive-o sem tê-lo
Acredite.
Assim
Como se, realmente, o tivesse.
Agora o olhar nos olhos é gélido
Mas o peito insiste em acelerar.
Peito tolo!
Naqueles olhos
Daqui pra frente
Somente mora o vazio.
A criatura que criei
Virou:
Pó
Espuma
Nuvem de nada
Qualquer coisa.
Qualquer coisa