Subalternidade

Porque me olhas assim?

Não sabes o quanto sofri?

Não ouvistes falar de mim por ande andastes?

Sou aquela mulher que pisastes com teus pés de fidalgo

A escrava doméstica que no teu lar, molestastes

Com o teu algo

Sou na verdade

O resultado, o produto final de uma elite

Escravizante do passado.

Que como toda a gente, num sub- emprego

Vê-se ainda hoje, assim como ontem

Importunada por vis cafajestes desalmados!

A história se repete...

Porque me olhas assim?

Não reconheces mais esse rosto,

Outrora belo e jovem, hoje

Fatigado e lapidado pelas muitas

Andanças e trapaças da vida?

Prosperastes, eu sei. Vives bem e feliz

Não te lembras sequer da noite em que

No meu quarto de doméstica, em teu lar

Me tornastes infeliz, no entanto,

Ao seres descoberto, me pusestes para fora

E me colocastes num lugar, fétido e vil

Era uma menina ainda, sendo obrigada

A sobreviver das migalhas, doadas por alguns

Amigos teus, abutres que desejavam

Comer as sobras do teu manjar e tornar-me

Cativa e servil...

Voltei para lembrar o teu ato covarde

E dizer-te, que em teu leito, dorme

Não só a bela e jovem mulher que desposastes

Mas uma senhora de muitos homens nobres e farristas

Que te enganas, com teu melhor amigo,

Teu chefe e até com o motorista!

Vingança? Não certamente! Lembranças...Lembranças

Que jamais serão esquecidas.